Rodrigo Pironti1
A adoção de uma gestão estratégica no processo de participação em licitações representa uma mudança paradigmática na forma como as empresas abordam o seu relacionamento com o Setor Público. Esta abordagem não é apenas uma tática para garantir novos contratos; ela é, de fato, uma peça fundamental na arquitetura do crescimento sustentável e do sucesso a longo prazo de uma organização. Este enfoque estratégico engloba diversas dimensões da gestão empresarial, desde a otimização de recursos internos até a expansão consciente no mercado, redefinindo o papel das licitações como um motor de desenvolvimento dos negócios da empresa.
Explorar as vantagens competitivas desse mercado licitacional requer um entendimento profundo dos fatores-chave que o norteiam, como pesquisa e análise de viabilidade de participação, a regularização de documentos necessários e sua constante atualização, a conformidade com os critérios de habilitação e especificações técnicas trazidas nos instrumentos convocatórios dentre outros fatores.
É em razão disso que a integração da estratégia de gestão de processos de participação em licitações de uma empresa, alinhada com o seu planejamento estratégico institucional, assegura que cada licitação que participa esteja direcionada aos seus objetivos de longo prazo, as suas capacidades e planos de crescimento. Esse alinhamento estratégico incentiva o planejamento cuidadoso e a seleção de licitações que não apenas oferecem uma maior probabilidade de êxito, mas que também se encaixam nos planos de desenvolvimento da empresa. Através desse filtro estratégico, a empresa pode dedicar seus recursos às oportunidades que oferecem o maior valor agregado, tanto em termos financeiros, quanto estratégicos.
Esta abordagem não só eleva as chances de sucesso nos processos licitatórios, mas também prepara a empresa para cumprir e superar as expectativas dos contratos resultantes desses processos, criando um ciclo virtuoso de crescimento e fortalecimento da empresa no mercado.
Para abordar de maneira mais objetiva a vinculação entre uma gestão estratégica de processos de participação em licitações e o êxito nos contratos futuros, é fundamental adentrarmos nos mecanismos e práticas que tornam essa conexão uma realidade operacional e estratégica nas organizações. A eficácia dessa gestão se traduz na capacidade de não apenas vencer licitações, mas também de cumprir os contratos com alta performance, alinhando-se estrategicamente aos objetivos de longo prazo da empresa. Esta análise técnica desdobra-se em várias frentes, dentre elas e resumidamente:
- Análise estratégica de oportunidades
Uma gestão estratégica eficaz começa com a análise detalhada das oportunidades de licitação, utilizando critérios técnicos e financeiros rigorosos. Isso envolve a aplicação de técnicas de análise de mercado, avaliação de compatibilidade de projetos com a capacidade operacional da empresa, e a análise SWOT (Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças) específica para cada licitação considerada. Esta análise é crucial para assegurar que a empresa participe apenas de licitações que estejam alinhadas com sua estratégia de negócios e capacidades.
- Desenvolvimento de propostas técnicas
O desenvolvimento de propostas técnicas robustas é outro componente crucial, exigindo um conhecimento aprofundado não apenas do próprio negócio da empresa, mas, principalmente, das normas técnicas e legislação aplicáveis e especificações do edital.
- Gerenciamento de riscos
A gestão de riscos nos processos de licitação que uma empresa participa é um fator fundamental, não apenas para assegurar a eficiência econômica nas participações, mas também para maximizar os ganhos financeiros decorrentes dos contratos decorrentes. Uma abordagem estratégica e minuciosa à gestão de riscos pode significar a diferença entre um contrato lucrativo ou um projeto oneroso, que drena recursos da empresa sem entregar o retorno por ela esperado. Portanto, é essencial integrar a gestão de riscos como um componente central da estratégia de participação em licitações.
O primeiro passo em uma gestão de riscos eficaz é a identificação e avaliação cuidadosa dos riscos potenciais associados a cada processo de licitação. Isso inclui avaliar a complexidade do projeto, requisitos técnicos, prazos, custos estimados e as características específicas do próprio órgão licitante. A análise de riscos permite à empresa decidir de forma assertiva se a participação na licitação alinha-se com suas capacidades, objetivos estratégicos e apetite ao risco.
Com base na avaliação de riscos, a empresa pode alocar recursos de maneira eficiente, direcionando-os para oportunidades de licitação com o melhor equilíbrio entre risco e retorno. Isso evita o desperdício de tempo e recursos em processos licitatórios que possuem alto risco ou que, mesmo em caso de sucesso, não ofereceriam retornos financeiros adequados.
Parte da gestão de riscos envolve o desenvolvimento de planos de contingência para possíveis cenários adversos. Isso significa ter estratégias pré-definidas para lidar com atrasos, custos adicionais, alterações no escopo do projeto e outros riscos comuns em contratos públicos. A preparação prévia para esses desafios não só minimiza suas consequências negativas, mas também assegura que a empresa possa manter sua lucratividade e eficiência operacional mesmo diante de eventos futuros e incertos.
- Compliance e Governança Corporativa
O cumprimento das regulamentações legais e éticas é assegurado por meio de um efetivo Sistema de Integridade. A inexistência de tais sistemas, principalmente com as obrigações advindas da Lei 14.133/21, Lei 13.303/16 e outras legislações estaduais e municipais específicas, não esta alinhada a uma estratégica sólida de governança corporativa com o objetivo maximizar o êxito e a eficiência econômica no relacionamento com o Setor Público. Sistemas de Integridade concretos, dentro de um cenário de efetiva governança corporativa, são utilizados para garantir a transparência, a responsabilidade e a integridade em todas as fases do processo de licitação e execução de contratos o que, em larga medida, amplia a eficiência da empresa nos contratos que participa.
- Melhoria contínua e aprendizado organizacional
Uma gestão estratégica dos processos de participação em licitação implica, também, na incorporação de lições aprendidas e na melhoria contínua dos processos de licitação e execução de projetos. Isso é alcançado por meio de revisões pós-projeto, análises de desempenho e a adoção de práticas de gestão do conhecimento para capturar e disseminar o aprendizado organizacional. Metodologias como Indicadores Chaves de Performance (KPIs – Key Performance Indicators) para monitoramento e medição de critérios avaliativos pré-definidos pelas empresas também são um importante mecanismo de planejamento e gestão estratégica de processos, capazes de garantir os objetivos econômicos pretendidos pelas organizações.
Conclusão
Em suma, a gestão estratégica de processos de participação em licitações, quando implementada de forma técnica e alinhada com os objetivos estratégicos da empresa, prepara a organização para alcançar o êxito esperado nos processos concorrenciais, mas também para executar com primazia os contratos deles decorrentes. Como boa prática de Governança Corporativa, a gestão estratégica de processos, portanto, garante sinergia entre a capacidade da empresa conquistar novas oportunidades de negócio e o reconhecimento de excelência na execução desses contratos.
- Pós-Doutor em Direito pela Universidad Complutense de Madrid. Doutor e Mestre em Direito Econômico e Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Vice-Presidente do Instituto Paranaense de Direito Administrativo – IPDA. Eleito nos anos de 2021, 2022 2023 e 2024 o advogado mais admirado em Compliance do país pelo Editorial Analise Advocacia e o mais admirado do Brasil no ranking Compliance ON TOP 2022. Autor de várias obras jurídicas nas áreas de controles internos, Compliance, gestão de riscos e LGPD. Advogado sócio e CEO do escritório Pironti Advogados (www.pirontiadvogados.com).
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